História de uma viagem - dormir no deserto do Saara

IMPERDÍVEL: DORMINDO NO DESERTO DO SAARA, NO MARROCOS

Uma história de viagem que me marcou foi dormir no deserto do Saara em Maio de 2016, enquanto fazia uma excursão pelo país com a Intrepid Travel (Best of Morocco Tour). Foi demais! 

Uma experiência inesquecível, que resolvi compartilhar aqui, porque acredito que é um dos passeios mais bacanas para fazer em terras magrebianas. Também gostaria de dar algumas dicas valiosas para quem esteja se programando para ir para lá ou para quem pensa em dormir no deserto do Saara um dia! 

Eu optei por viajar pelo Marrocos de excursão, porque acho que, sendo um país com costumes um tanto diferentes do que estamos habituados, eu tiraria mais proveito estando em grupo do que sozinha. Além disso, fui nas férias, e não queria perder tempo com eventuais contratempos, que às vezes acontecem quando estamos desacompanhados, explorando lugares desconhecidos. Pois bem, acho que acertei em cheio: recomendo explorar o Marrocos de excursão, principalmente se for a sua primeira vez no país e se você quiser visitar vários destinos. 

A expedição ao deserto do Saara foi um dos pontos fortes da viagem, e aconteceu depois de já estarmos viajando havia alguns dias pela região da Costa Atlântica (o tour começou em Casablanca) e pela região das Cidades Imperiais e Médio Atlas (Fez, Meknès, Volubilis). A minha excursão, diga-se de passagem, foi perfeita: a organização da equipe da Intrepid Travel neste tour foi excelente, o guia era engraçado e dava para ver que tinha bons conhecimentos dos locais. O tempo em cada localidade foi adequado, e o grupo era animado (não era muito grande nem muito pequeno): o ideal para encher uma minivan e colecionar risadas! 

A nossa última parada antes do deserto do Saara foi em Midelt, uma pequena cidade do centro do Marrocos, na região de Meknès-Tafilalet. Depois de pernoitarmos ali numa guesthouse (ou pensão) lindíssima, bem ao estilo oriental, com tapetes e lençóis coloridos para todos os lados, lamparinas árabes e anfitriões muito simpáticos, nos dirigimos a Merzouga, na província de Errachidia. A viagem levou em torno de 5h, mas fomos parando na estrada para apreciar as paisagens incríveis e únicas daquela região e para visitar pequenas aldeias berberes nômades no caminho. 

Para quem não sabe, o termo berbere originou-se do grego, significando “bárbaros”. Designava todos os grupos de pessoas que não pertenciam à civilização grega.  

Ao chegar em Merzouga, pequena aldeia berbere no limiar do deserto do Saara (a apenas 20 Km da fronteira com a Argélia), uma equipe local nos deu as boas vindas e algumas instruções básicas referentes à nossa estadia por ali, e adentramos o deserto ao entardecer, montados na garupa de dromedários. Foi hilário! 

História de uma viagem: dormir no deserto do Saara
História de uma viagem: dormir no deserto do Saara – Tour de dromedário até o acampamento.

Os dromedários são animais enormes, e você só consegue montar num deles se o bicho se abaixar. Mas são dóceis e andam devagar (ao menos os animais treinados para carregar turistas). Cada um montou em um dromedário, e viajamos até o acampamento em “fila indiana”, seguindo o guia. 

O itinerário até o nosso acampamento durou cerca de 1 hora, e foi inesquecível: parecia que tínhamos entrado em um livro de história, avistávamos apenas dunas e mais dunas de areias, de uma cor de tijolo ou de “barro alaranjada”, graças ao pôr-do-sol incrível que tivemos a sorte de presenciar. 

As dunas de Erg Chebbi estão entre as mais bonitas do país, e tudo era tão calmo que a impressão que dava era de que estávamos a caminho de algum retiro espiritual incomum, à moda marroquina. 

História de uma viagem: dormir no deserto do Saara - dunas e mais dunas!
História de uma viagem: dormir no deserto do Saara – dunas e mais dunas!

Importante mencionar que, para fazer este passeio, tivemos que levar apenas alguns poucos pertences para a noite que passaríamos ali (as demais malas e bagagens ficaram guardadas em um local destinado a isso, em Merzouga). 

Assim que chegamos ao nosso acampamento, fomos recebidos com chá de menta e doces árabes, e em seguida dirigidos até as nossas barracas (que eram bem rústicas, mas bonitas: havia alguns tapetes coloridos para cobrir o “areial”, as camas eram de palha com acolchoados coloridos por cima, e as repartições entre um espaço e outro eram improvisadas com lençóis-cortina). Cada cabana abrigava em torno de 4 a 6 pessoas. 

As instalações de banheiro eram igualmente bem básicas, mas com um mínimo de conforto aceitável para uma noite. Dica: tome um bom banho antes do passeio, porque no acampamento você provavelmente vai usar o banheiro para fins bem imediatos mesmo. 

Também havia algumas “barracas cozinha” onde as refeições eram preparadas. 

Todas as cabanas ficavam bem próximas umas das outras, dispostas em círculo, e no meio, havia uma grande mesa (sobre chão forrado com tapetes) com almofadas dispostas ao redor para a gente sentar. Tudo muito lindo e romântico, como num filme épico! 

História de uma viagem: dormir no deserto do Saara
História de uma viagem: dormir no deserto do Saara – nosso acampamento!

Nós jantamos à noite, sob um belíssimo céu estrelado e à luz de velas (no deserto não há eletricidade). A janta foi deliciosa (uma tajine com couscous típica marroquina), pão e doces de sobremesa com chá, claro! Depois da janta, alguns rapazes tocaram músicas típicas, fizemos uma fogueira e dançamos em volta dela, foi perfeito. 

A noite em si, entretanto, foi meio desconfortável, porque o vento soprou muito forte e a areia entrava pelas frestas das cabanas. Também fez bastante frio: recomendo aos viajantes levarem cobertores extras e até sacos de dormir, se assim preferirem e acharem mais apropriado. 

No outro dia, acordamos às 4h da manhã para ver o sol nascer, tomamos café (no caso, chá-da-manhã), tivemos um tempinho para fotos e fomos embora, na garupa dos nossos amigos dromedários.

História de uma viagem: dormir no deserto do Saara: dicas para os viajantes! 

Seguem abaixo algumas dicas que considero muito úteis para quem pensa em acampar no deserto.

1. Escolha o que for levar para o deserto com cuidado (e leve pouca coisa)

Quando eu fui, não dei muita importância a isso, joguei numa sacola algumas roupas escolhidas aleatoriamente, alguns produtos de banheiro e deu, fui! 

Beeeem, acho importante dizer que o vento forte por lá me surpreendeu bastante. Eu sofri um bocado com a areia entrando nos meus olhos e com o vento entrando nos meus ouvidos e me dando dor de cabeça. Inclusive peguei um resfriado depois do passeio (que durou uns dois dias, mas foi forte, com dor de garganta e tudo) devido à brusca diferença de temperatura do dia para a noite.  

No deserto, ainda que o sol seja extremamente quente durante o dia, à noite a temperatura cai consideravelmente e pode haver vento forte. 

Esteja preparado para isso: leve cobertas extras para conseguir dormir bem e não passar frio. 

Super aconselho a ter um lenço à disposição para proteger a cabeça e o pescoço (esqueça boné ou chapéu: o vento leva embora), tampões para os ouvidos se você for como eu e tiver algum problema com isso, colírio, óculos escuros e protetor solar. Leve igualmente sapatos fechados e confortáveis para a trilha de camelo, e calças compridas e flexíveis, de preferência de algodão. Evite roupas apertadas e de material sintético, pois são menos confortáveis. 

Dicas de como se vestir no Saara: mais ou menos assim!
Dicas de como se vestir no Saara: mais ou menos assim!

2. Vá de excursão e escolha bem o que prefere

Para quem viaja por conta, existem diversas opções de excursões para o Saara, especialmente em Merzouga, que é uma das regiões mais populares da região. 

Há inclusive muitos tipos de acampamento, para todos os gostos e bolsos: desde campings mais simples e básicos até campings de luxo. Tudo depende da experiência que você quer ter! Às vezes compensa pagar mais para ter algum conforto adicional. O Marrocos não é um país caro para visitar. 

Caso queira fazer o tour do Marrocos de excursão, recomendo a Intrepid Travel: https://www.intrepidtravel.com/en.

3. Faça o tour de camelo ou dromedário

É parte do programa! Nada mais sem graça do que ir até o deserto e não montar num camelo ou dromedário!! É como ir a Paris e não visitar a Tour Eiffel… frustrante. Para que o passeio se transforme em uma história de viagem inesquecível, vá até o acampamento montado num camelo! 

4. Leve em consideração a melhor época para a visita

Evite os meses de verão (julho e agosto). São meses de calor extremo na região e muitos acampamentos inclusive fecham neste período. As temperaturas durante o dia podem facilmente ultrapassar os 50°C. 

Nos meses de inverno (janeiro e fevereiro), os campings não costumam fechar, as temperaturas durante o dia são amenas, mas à noite faz muito frio (pode fazer menos de 10°C). Também não é a melhor época para o passeio. 

Os melhores meses são abril, maio, setembro e outubro. Vá por mim! 

5. Leve em consideração que não há energia elétrica na área

Vá com todos os seus aparelhos eletrônicos recarregados e use-os de maneira adequada para não ficar sem bateria muito rápido. Lembre-se: não vai ter como recarregar nada enquanto você estiver lá.

6. Não se afaste muito do camping

Já houve vários casos de turistas que perderam de vista o acampamento e depois não conseguiram mais voltar: se perderam. Meu amigo, se você se perder no deserto, você está lascado, infelizmente. A menos que você seja um Tuareg (homem do deserto), acredite: vai ser bem difícil você conseguir sair de lá.

História de uma viagem: dormir no deserto do Saara – um pouco de cultura e curiosidades locais

Aqui vou contar algumas curiosidades sobre os habitantes da região e sobre como os locais também exploram o deserto (além do turismo). 

Os homens do deserto:

Os “homens do deserto” ou Tuaregs, ou ainda “Homens azuis do Saara”, são os únicos seres que conseguem sobreviver nas condições extremas e difíceis do deserto do Saara. 

Eles são semi-nômades muçulmanos, com costumes próprios, descendentes dos povos berberes nativos do norte da África e falam uma língua própria, o Tamasheq. 

Possuem rebanhos de camelos, e viajam de um lado a outro para transportar bens entre localidades próximas e países vizinhos. 

Os Tuareg controlam várias rotas “trans-saarianas” e estiveram envolvidos em diversos conflitos na região do Saara durante o período colonial e pós-colonial na África. 

Eles são conhecidos como “povos azuis” por causa das suas túnicas e véus azul-índigos, de algodão que tradicionalmente usam para se proteger da areia e do sol do deserto. Essas roupas são tingidas de um jeito que a cor azul acaba impregnando o corpo e manchando as suas peles, daí o nome “homens azuis”. 

"Homens azuis" do Saara
“Homens azuis” do Saara

Os Tuaregs começam a usar o véu (que tapa os seus rostos inteiros, à exceção dos olhos), com 25 anos, e o véu é gigantesco: normalmente eles têm em torno de 6 metros, pois devem permitir que os homens o enrolem várias vezes em torno do rosto e do pescoço: pedaços de tecido extras oferecem proteção extra.

Outra coisa bacana dos Tuaregs, que vale à pena mencionar, é que o chá de menta deles contém uma das melhores ervas para ajudar o sistema digestivo: ele relaxa os músculos do estômago e estimula a secreção de sulcos estomacais. Tem propriedades purificadoras, que ajudam o sistema digestivo a expelir bactérias nocivas. Também é relaxante para a mente, reduzindo a tensão e a ansiedade, e o aroma pode ajudar a prevenir sintomas de dores de cabeça e resfriados. 

Sand Hammams ou Banhos de areia:

Você sabia que muitas pessoas vão até o deserto para tomar “banhos de areia”? Sim, isso existe, e a prática é altamente recomendada para quem sofre de reumatismo articular, pois o peso da areia e a composição mineral dela ajudam a pessoa a relaxar. Também são eficazes no combate à artrite e à dor ciática. 

Legal, não é mesmo?

Como dá para perceber, o Saara é um lugar especial e enigmático.

Se você tiver a oportunidade de visitar o Marrocos, eu super indico dormir um ou dois dias no deserto do Saara e fazer desse passeio a história de uma viagem para ficar na memória.

2 Replies to “IMPERDÍVEL: DORMINDO NO DESERTO DO SAARA, NO MARROCOS”

  1. Muito boas dicas!! Bom conhecer dicas antes de uma viagem, pois muitas vezes por falta de conhecimento caímos em grandes frias!!

    1. Obrigada Berenice!
      Pois é kkk informação é tudo né?
      Grande abraço 😉

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